sexta-feira, 9 de outubro de 2009

MEMÓRIA DESCRITIVA

Título:
“Artistas de Bolso”

Actividade:
Exposição comercial de obras de arte e simultaneamente livros em cujas ilustrações e capas, hajam colaborado artistas plásticos portugueses ou a trabalhar em Portugal, no século XX.

Enunciado Teórico:
No Portugal artístico da centúria de 1900, a actividade editorial conhece uma dinâmica renovada. Tentava-se que os livros, anteriormente delimitados a um público e a temáticas relativamente restritos, fossem então o mais abrangentes possível. Surge em consequência, para lá do trabalho mais cuidado de edições de luxo ou suportadas por editoras de grande dimensão, uma nova série de obras, de escritores nacionais e/ou estrangeiros, num formato “de bolso” ou “popular”. Estas, normalmente resultantes da actividade de pequenas editoras, para lá do reduzido preço, procuravam atrair visualmente o público, usando para tal a encomenda de capas (o mais comum) ou ilustrações internas, da autoria de artistas plásticos.
Muitos desses artistas, que mais tarde se consagraram através do que para muitos ainda é o processo da “Alta Cultura”, possuem um vasto reportório de colaborações e/ou encomendas mas desconhecidas ou depreciadas pela generalidade do público.
O confronto entre as obras em suporte tradicional e as obras em suporte livro, tendo em conta que se fará a apresentação de trabalhos em ambos os suportes, tende a manifestar a existência de outras valências criativas para lá das tradicionalmente consideradas como de valor museológico ou galerístico, sem esquecer que é nestas últimas que efectivamente se obtém a consagração e o reconhecimento públicos.
Tratando exclusivamente de autores a trabalhar em Portugal, procura-se dar a conhecer originais em série (normalmente as ilustrações internas ou de capa, eram obras originais, especificamente desenvolvidas para o caso) e valorizar essas produções, relembrando a sua proveniência autoral e identificando-a com um outro percurso mais estatuído em cânones de História da Arte.
Do trajecto desenvolvido, pretende-se que seja dada aos visitantes a possibilidade de por si mesmos analisarem as evoluções dos autores em ambas as dinâmicas e o paralelismo, ou a falta dele, entre uma produção de “Arte pela Arte” e uma produção em muitos casos ditada pela encomenda.

Promotores:
Projecto Património (Viseu) / EMPÓRIO (Viseu).

Parceiros:
Galeria Vera Cruz (Aveiro) / Livraria Lumière (Porto) / Contraluz (Porto).

Local:
Casa das Artes / Fórum – Viseu.

Data:
De 16 a 30 de Junho de 2009.

APRESENTAÇÃO

A exposição – por falta de termo que melhor se adeque – a que se dá palavra neste catálogo – idem quanto à nomenclatura – é um projecto comercial privado. Numa fase em que tanto se publicitam acções patrocinadas ou partilhadas pelas autoridades públicas, queda notório que ou não há tempo, ou interesse, para o desenvolvimento de outras actividades menos interessadas ou capazes de se assumirem como “blockbusters”, termo que do cinema se transferiu para tudo quanto à cultura diz respeito. O que se pretende aqui é apenas o endereçar de um convite a que se olhe para a produção portuguesa com tudo o que ela tem de seu: no bom, no mau e no idiossincrático, sendo disso caso.

A ilustração é um par menor da pintura, em termos de relevância pública e considerando-se o esquema tradicional de classificação, “tipo” Belas-Artes. Contudo e assumindo que é nela ou através dela que muito do que é produção gráfica passa de modo mais directo para o público não especializado, surge como quase inevitável dar-lhe destaque, quando para tal há ocasião. Tanto mais que dos livros que como suporte têm, em muitos casos vemos obras menores, comuns, não assumidas – em geral – nas colecções e catalogações bibliográficas de referência. Isso não lhes retira interesse mas não lhes configura visibilidade.

Um outro impulso que procuramos, é o de contrapor quando possível, a obra-livro (especificando que os livros presentes são objectos de alfarrabista) e outras produções em série – como os selos – e a obra “em geral” – seja “quadro” ou peça escultórica – para que talvez, num próximo olhar, a configuração multiplicada em tiragens não desmereça na avaliação qualitativa. A falta de uma moldura não deveria traduzir-se na falta de valor (para lá do económico). Mas essa é uma opinião que cabe a outros confirmar ou rebater[1].

Graças à possibilidade fornecida pelo Fórum - Viseu, com a sua Casa das Artes, tentamos (porque um processo e não um termo finito) dar corpo a um princípio de percurso, que conduza ao levantamento sistemático das obras, dos artistas e das editoras (com suas colecções/séries) que viram na ilustração um elemento integral na obra-livro e complementar ao conteúdo da mesma.

Para o ponto em que nos encontramos, deve dizer-se que só foi possível graças à colaboração da Livraria Lumière, da Galeria Vera Cruz e da Contraluz. Parceiros desde a primeira hora.

Pelo Projecto Património,
Liliana Castilho
Rui Macário



[1] A exposição “Vinil – Gravações e Capas de Discos de Artistas”, que decorreu no Museu da Fundação de Serralves - Porto, entre 09 de Maio e 13 de Julho de 2008 (comissariada por Guy Schraenen), é um bom exemplo do apreço que os suportes não convencionais, para as obras gráficas, podem incitar.

I - Artistas de Bolso…

O nome de uma actividade não pode ser sempre tido como a mais directa designação. Pelo contrário, em particular quando lidamos com o que pode ser designado por Património Cultural, as mais das vezes, os nomes são um complexo integrado de referências. Também aqui o notamos. Poderia não soar como dignificante o apelidar alguém de “artista de bolso”, muito em linha com um eventual “artista de pacotilha” ou “artista de meia-tijela”. Pois bem, não é isso que dizemos. Trata-se antes de afirmar que aos artistas, de obra plena e configurações mais tradicionais – quer em suporte, quer em impacto – outras valências podem ser atribuídas. A questão está (a haver questão, de todo) no facto de para lá dessa consagração em Museu ou Galeria, haver obras de valor e qualidade, noutros lugares.

Encontramo-nos perante um conjunto de objectos comuns, corriqueiros quase. A palavra que melhor lhes assenta é: quotidianos. Os livros dos dias. De todos os dias para, ao menos, algumas gerações de leitores. O passo seguinte, supostos os livros e os artistas – diga-se que, plásticos – é o de ver que livros. Livros portugueses; editados em Portugal e não sempre. Queremos olhar e possibilitar olhares quanto aos livros do século XX, transacto momento de expansão literária e editorial. A quantidade traduziu-se na multiplicação da qualidade mas e muito em particular, na dispersão dos títulos e dos apelos à leitura. Um dos casos mais claros foi o da criação de colecções destinadas a públicos para quem a (anterior) costumeira e “romântica” encadernação em couro não fazia falta, por assim dizer. O preço acompanhando essa nova situação.

Encontramos as séries populares, os livros de bolso e afins. Baratos, ou mais baratos e, acessíveis a muitos mais. Deu-se a criação de novos públicos e a divulgação de autores. Para estes livros, por norma de pequenos formatos, estatuiu-se que o conteúdo se bastava com auxílio, ou, preferencialmente com ele. Como? Dando imagem…

II - Ilustrações.

Segundo o, dito, Dicionário de Moraes, ilustrar é “fazer ilustre, fazer nobre; ennobrecer. Declarar com explicações, notas, commentos. Esclarecer, ilumminar. Ornar com gravuras ou estampas uma obra, um jornal”[1]. Esta definição, de fins do século XIX, não significa Hoje exactamente o mesmo que na época em que foi estabelecida. Ilustrar é algo mais, enquanto referência artística mas o acto em si e a derivação etimológica, sustentam-se nos mesmos pontos. Tanto mais que é aí que se encontra o apelo à ilustração de obras-livro.

Enobrecer um romance, uma narrativa histórica, um qualquer texto armado em brochura, foi o fito das colecções “populares” ou destinadas a um público menos exigente em termos objectuais, que a inclusão de ilustrações permitiu. Quer se tratasse de vinhetas (desenhos de capas) ou outras formas mas marcando o tom no primeiro dos casos. Para isso não terá sido irrelevante a cada vez maior circulação de “magazines”, almanaques e revistas de actualidades foto-ilustradas, especialmente desde a década de 1920 e entre os quais se podem destacar – na vertente de ilustração, ainda que incluindo a fotografia, apelo luxuoso de nova tecnologia disposta a uso – a Gazeta dos Caminhos de Ferro, Civilização, e Magazine Bertrand, não sendo de modo algum uma selecção abrangente (outras referências importantes serão por exemplo, as revistas ABC e Ilustração Portugueza). De igual modo e com contribuições mais ou menos paralelas mas não displicentes, o entorno qualitativo dado à publicidade, por essa época e a partir dela. Um último ponto que importa referir, prende-se com a cada vez maior possibilidade dada aos artistas de assinarem as suas obras/criações, motivando não apenas o apelo e respectiva aceitação, a outros artistas, como a capacidade de distinção e credenciação de todos aqueles que eram “expostos” através dos suportes já aludidos.

Da década do boom económico – os “Roaring Twenties”, em inglês - em diante, a mobilização artística e autoral conhece padrões elevados de desenvolvimento[2]. A moda e os ditames da participação ou valorização feminina na sociedade, encontra um dos seus picos. Muito do que se cria graficamente, tem como destinatário a Mulher e o facto faz com que a possibilidade de um público apto a adoptar a beleza estar igualmente apto a adoptar a qualidade e a referência de um “nome”, não fosse menosprezado pelos meios ainda não absolutamente de massas. O livro, visto aqui também nesse sentido.

[1] SILVA, António de Moraes – Dicionário da Língua Portugueza. Lisboa: Empreza Litteraria Fluminense, 1890. 9ª Edição. Vol II. Pag. 152.

[2] É preciso lembrar que a existência de revistas político-satíricas, cujo período áureo em termos de reconhecimento público, se consegue com as produções de Rafael Bordalo Pinheiro (e dele derivadas), nos finais do século XIX e inícios do século XX, também contribuiu em muito para que a habituação a um esquema narrativo gráfico se fosse adequando a produções massificadas. O que em certo sentido se poderia considerar uma “educação pelo/para o gosto” ou num muito moderno “criação de novos públicos”.

III – Ilustradores.

Os públicos livres – na sua capacidade de escolha – foram uma concepção arrojada mas relativamente fugaz, dentro do século XX português. Politicamente, e a História política de Portugal deste período, faz-se entre revoluções e mini-golpes de Estado, a consideração do povo como público depressa foi adoptada e as educações populares um critério sempre presente, fosse qual fosse o sentido directivo do poder instituído.

Com a década de 1930, surge a figura mais marcante do panorama cultural nacional em muito tempo: António Ferro. Não se contabilizando aqui os quês e porquês da sua posição, o relevante é que a ele se deve o início de um processo cujo entorno ditará os costumes gráficos de gerações inteiras, quando não havia a possibilidade de aceder a outros espaços e correntes – mormente anglófonas, a partir de meados do século. A ele se deve o desenhar de uma estrutura politicamente orientada, de criação e desenvolvimento de padrões artísticos. Transcritos através do Secretariado de Propaganda Nacional (fundado em 1933), num primeiro momento, e no Secretariado Nacional de Informação Turismo e Cultura Popular (“fundado” em 1946)[1], sequentemente. A supervivência deste modelo ocorre até tarde e nem a Revolução de Abril o extingue completamente, antes se baseando futuras expressões na final Secretaria de Estado da Informação e Turismo (“fundada” em 1968).

Com António Ferro, mais do que a adequação necessária e desejada a um modo de ver – a dita Política do Espírito, do Estado Novo – cabe lugar, pelos seus próprios apelos, um processo de dinamização artística e da existência minimamente aceite das correntes modernas. Almada Negreiros é muitas vezes referido como o maior expoente desta coexistência inovadora dentro de um regime “conservador”[2].

O Portugal do século XX é, no entanto, um Portugal de múltiplos artistas e de múltiplas produções. O decorrer entre as décadas de 20/30 e as décadas de 60/70, configura um potencial criativo de dimensão bastante superior à que se possa normalmente considerar. É certo que não se verificou a construção de um grupo mais ou menos homogéneo de obras, um estilo específico, ou sequer um seguir “ao tempo” de correntes estrangeiras (apenas Amadeo de Souza-Cardoso é tido como artista pleno no século XX, que aqui se enfoca, e sua respectiva época, “apesar” da sua nacionalidade) mas o que nesta afirmação poderá faltar em completude, é traduzido, em esquemas diversos, pela possibilidade de outros autores, noutros suportes que não a tela ou o mural, fazerem obra. Quantitativa e qualitativamente.

As obras de ilustração, aceites como tal – trabalho, emprego, mas também divulgação – granjearam, ou por falta de opções de carreira ou por mero aproveitar de uma proposta interessante nuns casos, proveitosa noutros, um conjunto bastante alargado de “objectos estéticos”. A haver um pódio, dir-se-ia que foi aos modernistas-surrealistas (e em Portugal faz sentido hifenizar as duas correntes, porventura mais do que em qualquer outro lugar) que coube a maior fatia de realizações marcantes. Pelas obras a que deram origem e pelas colaborações e criações que possibilitaram. Mesmo na década de 1970 se fala ainda de textos surrealistas a publicar e Tristan Tzara e Andrè Breton são nomes de vocabulário imediato para uma franja aceitável. Há contudo um outro pólo, oposto, que traduz provavelmente o melhor da portugalidade artística do período a abarcar: o neo-realismo. Literário e estético, não abandonando um pelo outro nem sacrificando um ao outro.

De todo em todo, seja na figuração, seja no design “simples”, a evolução gráfica da ilustração é também um modo de aferir a evolução gráfica do sentir artístico, na sua generalidade; pictórico em particular.

[1] Que Ferro abandonou em 1949.
[2] Veja-se o caso das Gares Marítimas de Alcântara e da Rocha Conde de Óbidos, cujos murais são da sua autoria. O exemplo de Almada, não é, contudo, único.

IV – Suportes.

Já se apresentou o livro. Em particular o livro de bolso, popular, ou Miniatura (como nomenclado numa colecção da Livros do Brasil). O livro geral, generalizado e apto a satisfazer leitores vastos e diversificados. Já se disse igualmente que se o inicio desta baliza cronológica tinha como marca os Magazines e Almanaques (da Bertrand, muito em especial), faltou referir o objecto como um todo.

Quando se fala em múltiplos, por norma temos presentes apenas as questões da gravura, da serigrafia ou outras produções similares que as evoluções tecnológicas permitiram, quanto à impressão e reprodução. Porém, num mesmo continuar, os livros são múltiplos. Se ao livro se adicionar a referida ilustração, de capa ou interior, cada uma dessas pequenas obras gráficas será igualmente “múltiplo”. Ou seja, nada as desconfigura enquanto produção artística. É certo que a multiplicidade destes casos, na ordem dos milhares, as mais das vezes, contribui para que não apenas se conheçam mais exemplares como, muito directamente, se não atribua ao “comum”, valor intrínseco. Adicionando-se a este ponto, a já aludida falta de visibilidade nos circuitos artísticos em si mesmos (para a generalidade das ilustrações que se apresenta) condiciona ou impede a leitura do tal elemento “arte”. No entanto, faça-se nota de que, a maioria das obras-livro possui ilustrações realizadas especificamente para o fim em causa. Usando uma terminologia corrente em termos artísticos: são originais. E a obra-livro será igualmente um original artístico, “por múltiplo” que seja.

Resta uma pequena nota: pelo facto de serem objectos circuláveis e não tão raros quanto isso, o cuidado com que se procedia ao seu manuseio levaram, em muitos casos a que a destruição do livro – neste caso – se proporcionasse com alguma frequência. Seria uma questão de atitude e eventualmente “respeito”, para com a obra.

V – Um Mundo de Imagens.

Tratou-se, nas páginas anteriores, daquilo que é o âmago desta mostra/exposição. Faltam algumas palavras finais.

Para lá do sistema elementar do “livro pobre” e da “cultura para as massas”, sempre houve e provavelmente sempre haverá outro tipo de edições, sejam obra literária ou periódicos, que consideram seu espaço o da divulgação e afirmação de um gosto mais apurado ou menos trivial. A revista Vértice, ou a Colóquio (na sua dupla vertente Artes e Letras; ou com apenas uma das duas dimensões), pugnaram pela construção de um espaço abrangente de ideias e realizações, literárias, artísticas (gráficas) e mesmo políticas. Não pretenderam o habitual, antes o excepcional. Mas foi nelas, que para muitos, pela primeira vez se trouxe a lume alguns nomes, palavras e imagens.

Quanto às editoras e suas colecções, nem sempre o popular serviu como foco. Bem pelo contrário. A tentativa de tradução e edição de obras até então inéditas em Portugal, operou um bypass a quem não possuía o empenho ou a disponibilidade suficientes para abordar temas e autores diferentes dos “best-sellers”. Nem por isso se perdeu o grafismo e nalguns casos, este é mesmo acentuado. Os anos de 1970 em diante confirmam essa leitura.

Por último, o que se vem fazendo. O assumir da qualidade e da capacidade ou interesse de cada vez mais públicos para a ligação ao referencial gráfico, conduziu a projectos editoriais extremamente vocacionados para a imagem. O conteúdo do livro tornou-se, em certa medida, um conjunto integrado de texto e ilustração/pintura/fotografia.

Não são o mesmo ilustrar de antes mas não deixam por isso de servir o seu propósito e de dar aos novos leitores algo mais. O tal enobrecer que subsiste. Para que disso possa afirmar-se que é apenas uma acção publicitária, será necessário reservar espaço noutras discussões e com outras valências. De todo em todo, o “Artista de Bolso” lá permanece, numa estante, numa mesa. Um múltiplo, talvez original (que ainda os há), disponível ao olhar.

Rui Macário[1]
Liliana Castilho[2]

[1] ANTROPODOMUS – Projecto Património / EMPÓRIO; Viseu
[2] ANTROPODOMUS – Projecto Património / EMPÓRIO; Viseu

Alfarrábios

Livro.
O que é um livro? Um amontoado de letras?
Sim, para algumas pessoas talvez. Mas um livro é muito mais. É algo que nos pode surpreender a cada minuto. Que nos enche de sonhos, de alegria, de tristeza, que nos transporta para outros mundos, para outras vivências. É um amigo que está sempre disponível.

Enquanto alfarrabista, profissão que exerço há 12 anos, a experiência que tenho é que existe quem compre livros apenas pelo seu conteúdo; mas há quem o faça tendo em conta a edição, a editora, se é ilustrado, se está encadernado ou em brochura.

É comum dizer-se que os livros novos estão caros. E é verdade. Com esta exposição, pretende-se mostrar que é possível adquirir bons livros, a um preço bastante acessível e ainda levar para casa uma obra de arte. Sim, porque alguns destes livros são uma autêntica obra de arte, visto serem ilustrados por artista de grande nome, como Lima de Freitas, Victor Palla, Bernardo Marques, João da Câmara Leme.

Nos anos 60 e 70, publicaram-se muito bons autores, com excelentes traduções. É o caso das editoras Ulisseia, Estúdios Cor, Livros do Brasil, Portugália, Editorial Minerva, entre muitas outras. E, como se não bastasse, teve-se o cuidado que estas edições fossem enriquecidas com belas ilustrações quer na capa quer no interior.

Felizmente, a maioria dos leitores estão mais sensibilizados para este género de livros, daí serem mais exigentes. Só compram determinado livro se for da editora x ou y e se a tradução for de algum tradutor conceituado.

É importante que se aposte cada vez mais em edições de boa qualidade e apelativas do ponto de vista gráfico. Editores e livreiros têm um papel fundamental nesse campo. Têm a obrigação e o dever de “educar” os seus clientes. Devendo desta forma promover a leitura e fazer com que esses momentos sejam de prazer e satisfação. Fazer com que o leitor ao pegar num livro, o faça com respeito, com cuidado, que sinta que tem nas mãos um pequeno grande tesouro.

E, podemos estar certos, que um livro vende apenas pela capa. Já vendi muitos assim! O cliente olha e fica rendido à beleza da edição e da capa em particular.
Quem os compra? Clientes com sensibilidade. Clientes que, mais do que um livro, procuram uma obra de arte. E, conseguem-no por pouco dinheiro...

Consegue ficar indiferente a tanta beleza? Duvido.A escolha é variada. Leve para casa um amigo.

Boas leituras!

Cláudia Ribeiro[1]


[1]
Livraria Lumière; Porto

O livro b

A caber nas mãos.
O marginal, o diminuído, o escondido, o ternurento e pequeno..., o livro b.
Tendencialmente, e de modo simplificado, o livro de bolso (de ora em diante livro b) tornou-se, por vezes e redutoramente, uma miniaturização do livro. Raramente existindo por si só, sendo antes um "parente pequeno" (e, infelizmente, pobre) do Livro. No entanto, as possibilidades gráficas e a portabilidade deste objecto tornam-o um desafio à composição e aos equilíbrios de texto. Num prolongamento físico do leitor, sem estar confinado a uma mesa... A proximidade e intimidade. A sua escala e hierarquias podem ser (são) outras pois o livro b está "fisicamente" mais próximo do seu leitor (marginalmente mais seu?). A interacção física com o objecto é muito mais intensa (poder-se-á dizer que é um formato mais envolvente -ou envolvido- de livro...). Até as margens de descanso são outras literal e figuradamente (se temos de pensar nos dedos sobre o livro mantendo as páginas abertas, também este se encontra muito mais perto do olhar, diminuindo, assim, o corpo tipográfico e a necessidade de margens de descanso extensas e largas, onde se faz a "ancoragem" da linha seguinte.).
Finalmente, consequentemente ou como primeira razão de existência, este livro é mais económico o que o aproxima ainda mais do leitor (de mais leitores).

O livro b é um objecto (É mais objecto!), que poderá ser apenas a miniaturização do seu nobre irmão de peso (e este sentido de desprestígio tem-no condenado ao pouco sucesso comercial, ironicamente) ou um companheiro de viagem, acessível, ergonómico, íntimo e um desafio em querer conter todos os conteúdos necessários. Mais concentrado (juntar água?), compacto, possuível. Do tamanho de uma playstation.

SÚMULA DE BIBLIOGRAFIA, FONTES E RECURSOS BIBLIOGRÁFICOS

AFRICAN CONTEMPORARY ART GALLERY – Featured Artists. http://www.africancontemporary.com/artists-percursors.htm ~

ARTISTAS UNIDOS – Pessoas. http://www.artistasunidos.pt/artistas.htm

FRANÇA, José-Augusto – Arte em Portugal no Século XX. Lisboa: Bertrand, [s.d.].

FRANÇA, José-Augusto – Quinhentos Folhetins. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1984. 2 Vols.

FRANÇA; José-Augusto – A Arte e a Sociedade Portuguesa no Século XX. 1910-2000. Lisboa: Livros Horizonte, 2000. 4ª Edição.

FUNDAÇÃO CALLOUSTE GULBENKIAN – CENTRO DE ARTE MODERNA JOSÉ DE AZEREDO PERDIGÃO – Selecção de Artistas. http://www.camjap.gulbenkian.pt/l1/ar%7BD2B27546-03B0-4185-A5F8-0B5ACC3E203C%7D/m1/t3.aspx

PAMPLONA, Fernando de – Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses. Porto: Civilização, 1987. 2ª Edição. 5 Vols.

PÉREZ, Miguel von Hafe (Com.) – Anamnese. Plataforma Digital Sobre Arte Contemporânea de/em Portugal entre 1993 e 2003. http://www.anamnese.pt/