sexta-feira, 9 de outubro de 2009

II - Ilustrações.

Segundo o, dito, Dicionário de Moraes, ilustrar é “fazer ilustre, fazer nobre; ennobrecer. Declarar com explicações, notas, commentos. Esclarecer, ilumminar. Ornar com gravuras ou estampas uma obra, um jornal”[1]. Esta definição, de fins do século XIX, não significa Hoje exactamente o mesmo que na época em que foi estabelecida. Ilustrar é algo mais, enquanto referência artística mas o acto em si e a derivação etimológica, sustentam-se nos mesmos pontos. Tanto mais que é aí que se encontra o apelo à ilustração de obras-livro.

Enobrecer um romance, uma narrativa histórica, um qualquer texto armado em brochura, foi o fito das colecções “populares” ou destinadas a um público menos exigente em termos objectuais, que a inclusão de ilustrações permitiu. Quer se tratasse de vinhetas (desenhos de capas) ou outras formas mas marcando o tom no primeiro dos casos. Para isso não terá sido irrelevante a cada vez maior circulação de “magazines”, almanaques e revistas de actualidades foto-ilustradas, especialmente desde a década de 1920 e entre os quais se podem destacar – na vertente de ilustração, ainda que incluindo a fotografia, apelo luxuoso de nova tecnologia disposta a uso – a Gazeta dos Caminhos de Ferro, Civilização, e Magazine Bertrand, não sendo de modo algum uma selecção abrangente (outras referências importantes serão por exemplo, as revistas ABC e Ilustração Portugueza). De igual modo e com contribuições mais ou menos paralelas mas não displicentes, o entorno qualitativo dado à publicidade, por essa época e a partir dela. Um último ponto que importa referir, prende-se com a cada vez maior possibilidade dada aos artistas de assinarem as suas obras/criações, motivando não apenas o apelo e respectiva aceitação, a outros artistas, como a capacidade de distinção e credenciação de todos aqueles que eram “expostos” através dos suportes já aludidos.

Da década do boom económico – os “Roaring Twenties”, em inglês - em diante, a mobilização artística e autoral conhece padrões elevados de desenvolvimento[2]. A moda e os ditames da participação ou valorização feminina na sociedade, encontra um dos seus picos. Muito do que se cria graficamente, tem como destinatário a Mulher e o facto faz com que a possibilidade de um público apto a adoptar a beleza estar igualmente apto a adoptar a qualidade e a referência de um “nome”, não fosse menosprezado pelos meios ainda não absolutamente de massas. O livro, visto aqui também nesse sentido.

[1] SILVA, António de Moraes – Dicionário da Língua Portugueza. Lisboa: Empreza Litteraria Fluminense, 1890. 9ª Edição. Vol II. Pag. 152.

[2] É preciso lembrar que a existência de revistas político-satíricas, cujo período áureo em termos de reconhecimento público, se consegue com as produções de Rafael Bordalo Pinheiro (e dele derivadas), nos finais do século XIX e inícios do século XX, também contribuiu em muito para que a habituação a um esquema narrativo gráfico se fosse adequando a produções massificadas. O que em certo sentido se poderia considerar uma “educação pelo/para o gosto” ou num muito moderno “criação de novos públicos”.

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